Só podemos dizer que fomos, curtimos, voltamos e nosso maravilhoso veleiro Bepaluhê esta inteirinho, sem nada quebrado!
E olha que este ano teve de tudo, barco com mastro quebrado logo no início, lemes quebrados, naufrágio e muito mais ...
No total foram 9 veleiros que não puderam completar a regata por problemas os mais diversos.
Nós, que éramos marinheiros de primeira viagem e com uma tripulação pouco entrosada para regatas (dois casais tentando curtir o passeio ao máximo), até que ficamos contentes com nosso desempenho, em especial por termos resistido firme nos turnos, por termos chegado ilesos e por termos superado aquele marzão danado que Deus nos mandou.
Chegamos a Recife no dia 24/9 a tarde e fomos direto para o Cabanga Iate Clube onde o Bepaluhê nos esperava tranquilo em uma bela vaga que o amigo Comandante Sérgio Chagas (Veleiro Intuição) o havia colocado uma semana antes vindo de Salvador.
Cabanga Iate Clube - Um ícone nacional
No barco já estavam nos esperando os amigos e parceiros nesta empreitada, o casal Jairo e Claudia do Veleiro Nemo (Ilha Sul Náuticas), prontos para desfazer as malas e arrumar o barco para a “longa” travessia.
Aproveitamos para colocar as conversas em dia e curtir um pouco o ambiente. Terminamos o dia e começo da noite com uma petiscos e ostras frescas (que só eu comi pois os outros não gostavam de ostras) no bar da piscina do clube.
E os dias foram correndo entre conversas e preparativos para a regata; fomos ao supermercado comprar os mantimentos para a viagem e passeamos um pouco, bem pouco, pela cidade.
Dia 25/9 a noite fomos à grande festa de abertura oficial do evento seguida por jantar e baile. Voltamos cedo para o barco...
Tripulação confraternizando no almoço e passeando no clube
E quando vimos já era sexta feira a noite, véspera da partida e a ansiedade já estava solta. Betinha preocupada em como iria enfrentar o mal estar e Claudia ansiosa com a grande aventura.
Partiríamos na primeira largada, logo as 12:30 hs do sábado dia 27/9/14.
Ancorados no canal a espera da largada
Reparos finais - trocando a lâmpada de navegação
No início deu tudo certo, largamos bem, sem queimar e fomos lentamente (ventos de 14-15 kt) passando os outros barcos ainda dentro do canal do porto, mas de repente entrou um vento mais forte de 20 kt e nós arribamos muito para sotavento e este foi o erro. Quando dei a ordem para cambar a genoa não enrolou e fomos derivando perigosamente para cima dos molhes do fim do canal...
Largando bem
Todos do grupo nos passaram e perdemos quase uma hora tentando nos safar dos molhes e recuperar o tempo. Erro de principiantes!!
Sufoco logo após a largada e a turma de traz já nos passando
Na sequência, o vento acalmou e tivemos muita dificuldade para conseguir chegar à bóia que estava ao sul do ponto de largada. Nesta brincadeira perdemos quase 3 hs e nos estressamos muito. Quando finalmente consegui colocar o barco no rumo certo já passávamos das 15 hs e eu tinha uma tripulação com o moral lá embaixo e uma tripulante, minha querida Betinha, já mareada e vomitando sem parar. Devo dizer que estive por pouco para abandonar tudo e voltar para Recife. Mas Betinha foi forte e me permitiu seguir adiante.
Logo após montar a bóia sul, com ventos ainda fortes na casa dos 25-30 kt, cruzamos com o primeiro veleiro avariado, um catamarã que havia quebrado o mastro, que dor! Fizemos contato no rádio, estavam todos bem a bordo e o socorro já fora acionado via rádio. Seguimos viagem um pouco preocupados com o que nos esperava.
Um susto, catamarã com mastro quebrado
Com a ajuda do amigo Jairo, que aos poucos fomos nos entrosando no controle das velas e do barco, conseguimos imprimir um bom ritmo noite a dentro e apesar do mar e vento grandes, o Bepaluhê se comportava como um verdadeiro trator do mares, cortando as ondas menores e surfando nas maiores.
Com a quilha toda baixa, a vela grande no primeiro riso e a genoa com 2/3 seguimos com velocidades que variavam de 6 a 7 kt. Depois das 10 da noite rizamos um pouco mais a grande para dar mais conforto e permitir que um de nós descansasse um pouco. Fizemos turnos de 2 hs até o amanhecer.
Betinha passava mal, não podia descer para a proteção do interior do barco pois piorava, passou a noite toda no cockpit, nauseada e vomitando, deitada no canto e tentando segurar a onda. Não tinha nem palavras para falar.
No dia seguinte, domingo 28/9, o tempo amanheceu lindo e aos poucos o moral a bordo foi melhorando e voltando ao normal. Durante o dia eu e Jairo nos divertíamos trinando as velas e tentando tirar o melhor do Bepaluhê que chegava a fazer 8-9 kt nas surfadas, devo dizer que daí pra frente fomos levando o o barco na ponta dos dedos (mentira, o piloto automático foi quem controlou brilhantemente o barco toda a viagem) e levei o Bepaluhê ao seu limite, como nunca havia feito antes. Tivemos períodos durante o dia com todo o pano aberto, barco bem adernado e desempenho excelente para um veleiro de cruzeiro equipado e pesado como o nosso.
Velejada maravilhosa com todo pano em cima
Claudia e Jairo curtindo o barco, o vento e a velejada
Bepaluhê a todo pano de dia
Betinha começando a melhorar um pouco no fim do segundo dia
Por do sol no mar: impagável
Andando bem nas surfadas
A segunda noite já foi mais tranquila, não no vento e no mar, mas na segurança que tínhamos no barco e no nosso desempenho. Betinha já estava um pouquinho melhor e pelo menos conseguia se hidratar, conversar um pouco e tinha palavras para jurar que “nunca mais”!
Pirajá ao anoitecer: só para assustar
Amanheceu dia 29/9 e tínhamos a certeza que os primeiros veleiros já estavam em Noronha, e nós ali ainda em busca do nosso destino. Por outro lado estávamos dispostos e cada vez mais felizes e seguros. Sabíamos de vários veleiros com avarias e desistências e este fato reforçava nossa alegria de estar chegando em Noronha.
Agora sim a almiranta começou a se recuperar
Comandante Paulo louco para ver a ilha
Passavam poucos minutos das 12 hs quando avistamos a Ilha de Fernando de Noronha ao longe, camuflada pela névoa que vinha do mar e refletiam nos raios solares. Daí até a chegada foi só uma questão de paciência .
Fernando de Noronha ao fundo
Comemorando a chegada: ansiedade a mil
Às 15:31 montamos a ponta da Sapata!
Às 16:29 cruzamos a linha de chegada no mirante do Boldró com 51 horas e 51 minutos !
Noronha: um espetáculo a parte. Só que foi sabe!
Morro do Pico e Dois Irmãos: ícones de Noronha
Estávamos realizados! Cansados certamente, mas realizados e felizes pela conquista.
O nunca mais ficou para traz e abriu espaço para curtir a ilha pelos dias que se seguiram, mas isto eu contarei no próximo post...
Enfim ancorados em Noronha! Morro do Pico ao fundo
Dedicatória:
Dedico esta viagem ao meu amor Betinha, que dentro da sua intangível fragilidade, se fez forte como uma leoa (do mar claro) permitindo que eu realizasse este sonho e vivesse intensamente cada segundo deste passeio/regata.
Obrigado Betinha!!
Agradecimentos:
Aos amigos Jairo e Claudia pelo companheirismo e dedicação durante os 10 dias em que estivemos juntos, convivendo, sofrendo e nos divertindo muito.
Tenho certeza que esta regata ficará marcada para sempre!